terça-feira, abril 30, 2013

PRÓLOGO PARA: LOS CANTOS DE MALDOROR



PRÓLOGO do romancista, Ruy Câmara, para a edição espanhola de Los Cantos de Maldoror, do Conde de Lautréamont. 

Tradução: Basilio Losada

LOS CANTOS DE MALDOROR
Tradução do francês para o castelhano: 
Manuel Serrat Crespo


Abram Lautréamont! 
E aí está toda a literatura virada pelo avesso como um guarda chuva! Fechem Lautréamont e tudo volta ao seu lugar... 
(Francis Ponge)

Edição 1864

Tão estranha quanto original e fascinante é a imaginação abissal e delirante que se materializa neste livro à sombra da genialidade de Isidore Ducasse (1846-1870), autor celebrizado pelo pseudônimo, Conde de Lautréamont, um mito literário que ergue-se sozinho sobre os pilares de uma vasta bibliografia que o situa no rol de autores mais controversos, discutidos e estudados na atualidade.

Cabaré do Céu e do Inferno
Montmartre - Paris

Re-li Los Cantos de Maldoror cerrada e desesperadamente, como se estivesse naquele estado de torpor intelectual em que o solitário Ducasse era visto, ora ébrio e feliz, entornando taças de bons vinho no Cabaré du Ciel et de l’Enfer, no Montmartre, ora triste e decaído, ingerindo substâncias opiáceas num bordel qualquer, de uma ruela qualquer, numa noite qualquer da velha e bela Paris do século 19.



Lautréamont, esse fantasma fiel à sua maneira invisível de aparecer, rasga a lucidez do leitor e decreta a falência da racionalidade ao se servir da lógica do absurdo para atacar com fúria a própria alteridade, que se expressa no sistema do livro como provocação às tradições ou como sedução linguística. 



Nessa obra cifrada e permeada de códigos, a arte literária é soberana, e o que nela se respira é o ar insalubre de atmosferas pantanosas e sombrias, que sufocam e perturbam até mesmo os leitores habituados às longas jornadas do pensamento.



Baudelaire aos 46 anos

Por essa razão, Lautréamont foi inúmeras vezes acusado de beber onde Baudelaire bebia: na fonte de Lúcifer, e assim como Lautréamont e Lúcifer, Ducasse foi igualmente caluniado e incompreendido por haver engendrado “Maldoror” com plena consciência de que colocava em cena um personagem instintivo, cruel e maligno, à semelhança do homem, e o fez propositadamente, sob a ótica de um adolescente expatriado e reprimido, que não teve o amor materno e foi forçado a viver exilado e distante do pai durante toda a sua juventude.


Apesar de Ducasse andar em muitas bocas, em muitos livros e de haver seduzido inúmeros espíritos, poucos conhecem em
pormenores sua vida trágica, de modo que, qualquer abordagem centrada no seu legado literário, por mais despretensiosa que se pretenda, acabará desembocando nos seus aspectos biográficos e nas explicações que o justifiquem como indivíduo ignorado pela família, pelo Estado e pela sociedade.


Assim como a imensa maioria de indivíduos que passa pela vida sem deixar vestígios de sua existência, Ducasse não haveria de ter sua existência comprovada em separado de suas obras e dos registros biográficos que foram sendo descobertos ao longo dos séculos 19, 20 e 21. 



A impressão generalizada de que sua vida é um mistério indesvelável, está completamente superada, uma vez que já se reuniu muito mais elementos sobre esse montevideano, morto há 137 anos, do que normalmente reunimos acerca de importantes autores da atualidade. Contudo, há lacunas em sua vida e em sua personalidade que só podem ser preenchidas por componentes de verossimilhança literária.



A suposta ausência de elementos biográficos de Isidore-Lucien Ducasse, nascido em Montevidéu a 4 de abril de 1846, levou inúmeros autores a produzir invenções e mitificações variadas e esdrúxulas sobre sua vida, como a versão de René Dumesnil, de que Ducasse teria nascido em 1850; a versão de Rémy de Gourmont, de que teria morrido aos 28 anos; a versão de Léon Genonceaux, de que escrevia sentado frente ao piano e desesperava os hóspedes do hotel, tirando acordes na alta madrugada; a versão de Léon Bloy, de que o autor morreu numa cabana e é tudo o quanto se sabe dele; a versão de Rubén Dario, de que se trata de um louco e seu nome verdadeiro se ignora; a versão de que havia combatido na comuna de 1871; ou uma versão que se repete nos dias atuais, de que teria embarcado
em Bordeaux e regressado a Montevidéu em 25 de maio de 1867, hipótese endossada por Philippe Soupault, Pichon Rivière e mais tarde por Pablo Neruda. 



Rivière, autor de polêmicos relatos, afirma num artigo de 1946, em La Nación, de Buenos Aires, que Ducasse teria embarcado em Bordeaux, no veleiro Harrick, para visitar parentes em Córdoba, antes de seguir para Montevidéu.


Mas esses e outros equívocos já estão aclarados, de modo que, não se pode reprovar as boas e más intenções desses autores porque, enfim, não fosse o desprendimento e entusiasmo com que se lançaram na difícil tarefa elucidativa de Lautréamont, Ducasse teria pouca chance de sair do breu do anonimato em que se encontrava desde o princípio e, provavelmente, continuaria obumbrado e esquecido, juntamente com seu Cantos de Maldoror, por todo o século 20.



Até onde as nossas pesquisas alcançam, podemos inferir que, em 1867 Ducasse viu, de fato, o mar em Bordeaux, não com o propósito de regressar a Montevidéu, mas a pretexto de matricular-se na Faculdade de Letras, que seria uma forma de reconciliação com seu pai, com quem estava rompido após haver
Evariste Carrance
ele abandonado os estudos formais, e também para agenciar a publicação do seu Canto Primeiro em Bordeaux, mais provavelmente com Evariste Carrance, seu futuro editor. 



Há ainda outro forte motivo que inviabiliza completamente a hipótese de um regresso de Ducasse a Montevidéu em 1867: aos 21 anos de idade e como uruguaio nato, ele teria sido recrutado logo no desembarque para defender seu País na guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) em que o Uruguai, ao lado do Brasil e da Argentina, dizimavam o Paraguai. Nessa guerra a população do Uruguai foi reduzida para a metade, a Argentina perdeu 50 mil homens e o Brasil, 100 mil. O Paraguai, ardendo-se em chamas, ficou com apenas 25% da sua população. Ducasse tampouco lutou na comuna de Paris em 1871, já que, por esse tempo, seu corpo jazia no Cemitério Montmartre-Norte.

Carta a um Crítico Literário de Paris

É certo que a morte, as guerras e o destino trágico perseguem Isidore-Lucien Ducasse desde a origem, quando, aos 2 (dois) anos, testemunha o suicídio de Célestine-Jacquette Davezac (1821), sua mãe, ocorrido na comemoração natalina de 1847, no casarão 9, da rua Camacuá, em Montevidéu. Aos 13 anos, devido às pestes e guerras no Uruguai, o menino é empurrado num navio pelo chanceler interino do consulado geral da França em Montevidéu, François Ducasse (1809-1887), seu pai, para ser educado no sul da França, onde sofre crises de angústias terríveis e os rigores dos pedófilos nas prisões escolares de Tarbes e Pau. Aos 18 anos, tendo em mãos um bacharelado e uns Cantos inacabados, adota para si o pseudônimo “Conde de Lautréamont” e vai aventurar-se no mundo das letras em Paris e Bruxelas. Rejeitado pelos editores e decepcionado com o paroquialismo literário francês, o jovem escritor, precursor do surrealismo e discípulo de Baudelaire, abandona os estudos formais e passa a desfrutar, às expensas do
Hotel Verdun - Paris
pai, de uma vida pomposa em Paris, sendo hóspede do hotel Verdun, no Cais d’Anjou, 17. Sentindo-se no topo do mundo, Ducasse adquire hábitos refinados, aluga um fiacre-negro, com cocheiro agaloado e passa a freqüentar os teatros, bistrôs e torna-se um fregês assíduo dos cabarés do Montmartre. 



Quando tudo vai bem na vida desse dândi precoce, contemporâneo de Verlaine e Marllamé, eis que François Ducasse toma conhecimento da vida boêmia e errante do filho e o abandona. Com os orgulhos feridos e cheio de esperanças no seu futuro literário, Ducasse empreende viagens à Bélgica na esperança de aproximar-se de Baudelaire, Paulet Malassis e Victor Hugo, que viviam em Bruxelas na condição de expatriados. 

Nessas aventuras, Ducasse se dá conta de que, em pouco tempo, havia dilapidado a antecipação de herança que seu pai havia concedido sob a tutela do banqueiro Jean Darasse. Ducasse retorna a Paris arruinado e passa a viver nos quartos de fundos e sem direito a lenha, nas pensões de segunda categoria, onde é tratado como hóspede relapso e impontual. Sem emprego, sem família, sem amigos e submetido à tirania financeira de Jean Darasse, Ducasse, rompe com as instâncias normativas da vida, fazendo da arte literária o refúgio da sua fuga e do isolamento no quarto, o seu cativeiro, revivendo assim, o tempo daquele adolescente aprisionado nos liceus, onde acabou aprendendo a amar as paredes
Bismarck e Luiz Napoleão - Batalha de Sedan
do próprio cárcere. Completamente desiludido e sentindo na carne que o ato da criação é uma eternidade sufocante, Ducasse passa a viver às margens das regras sociais, fugindo dos credores e sofrendo privações materiais e morais de toda ordem. Em 1870, estoura a guerra franco-prussiana e o império de Luis Napoleão tomba aos pés de Bismarck, o general de ferro da Prússia. 


Epitáfio - Aptº de Ducasse

A decadência leva seu tutor, o banqueiro Jean Darasse, à bancarrota, que arrasta as finanças do cônsul François Ducasse, deixando-o praticamente falido e submetido às perseguições diplomáticas no Uruguai, país que também está em chamas. 

Aos 24 anos, sem ter como se suster no quarto 7, da rua du Faubourg-Montmartre, e profundamente deprimido com a carnificina que avoluma os cadáveres nas ruas de Paris, o jovem
Nº 7 Faubourg-Montemartre
escritor ingere um coquetel mortífero, arrepanha sua navalha e, na manhã de 24 de novembro de 1870, seu cadáver é encontrado pelo garçom, Antoine Milleret, cumprindo-se, portanto, a profecia escrita no Canto Primeiro, décima estrofe: Ao despertar, minha navalha, abrindo caminho através do pescoço, provará que nada, com efeito, é mais verdadeiro... Além da obra principal, Los Cantos de Maldoror, de um livro inacabado, intitulado Poésies e de uma gigantesca biobibliografia, Ducasse deixou registros fundamentais que comprovam, cabalmente, sua existência, tais como: 

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Uma certidão de nascimento, encontrada em 1920 pelos irmãos, Álvaro y Gervasio Guillot Muñoz, na Cúria de Montevidéu; 



Uma foto de 1865 com os condiscípulos da turma de retórica do Liceu de Pau;
sete cartas (ver abaixo), hoje em poder dos colecionadores de raridades; e o atestado de óbito – Extrait des minutes des actes Nº 768419, expedido pela Prefeitura do Sena. Contudo, seu túmulo e seus restos mortais desapareceram, mas há registros de que seu cadáver foi sepultado no dia 25 de novembro de 1870, numa tumba de cessão temporária na 35ª
divisão do Cemitério Montmartre-Norte, e após 57 dias do sepultamento, mais precisamente em 20 de janeiro de 1871, foi trasladado para a 49ª divisão do mesmo cemitério, onde permaneceu até o meado de 1890, quando as autoridades da França transferiram seus restos para um ossuário público. Sua mãe, Célestine, foi sepultada em local ignorado. Já o túmulo de seu pai, o cônsul François Ducasse, permanece intacto no Cemitério de Montevidéu
.


Após anos de investigação, cheguei a conclusão de que o suicídio de Célestine foi um incidente insuperável na vida de Ducasse e também decisivo na formação da sua personalidade e do seu caráter. É provável que, nos seus anos de confinamento nos liceus franceses, ele tenha compreendido e pensado no suicídio como uma forma de ruptura com qualquer fundamentação absoluta. (...) triste como o universo, belo como o suicídio. E é possível supor que, nos seus momentos entediantes, sem ter a quem recorrer, a figura do pai ausente, aparecesse apenas como uma imagem entressonhada. Apesar de tudo, o ódio que Ducasse sentia ou fingia sentir pelo pai, não resistia a um naco de afeto. Não era um ódio legítimo.


É consenso entre os investigadores que o castelhano sempre esteve na gênese do pensamento de Ducasse. As vozes que ele faz reverberar nos Cantos nada mais são do que os ecos da sua infância caótica numa Montevidéu incendida e mortificada pela carnificina das guerras. Não há como negar que o castelhano teve grande influência na sua composição e na sua linguagem. Percebe-se isso até mesmo nas suas improbidades estilísticas, que são, de fato, as marcas que caracterizam um autor em processo contínuo de mutação. Em função dessas flutuações ele se via constantemente ameaçado de falência criativa em função dos sintomas depressivos. 

E aqui cabe a questão: como ignorar que a revolta do seu personagem, Maldoror, são reflexos da sensação sinóptica de tudo o que Ducasse apreendia como experiência sensível na infância? 

Obra de Eugène Sue

Uma das acusações mais intrigantes é a de que Ducasse teria plagiado seu cognome a partir de uma corruptela de Lautréaumont, nome de uma obra do escritor folhetinesco inglês, Eugène Sue, autor de Les Mystères de Paris. Embora pareça verossímil, discordamos dessa hipótese e tudo nos leva a crer que ele inventou para si um cognome extremamente original e estranho, tanto e quanto a etimologia da palavra e o significado que pretendia dar. Fundamentado na tese do bilingüismo em Ducasse, sugerimos aos investigadores o reparo desse equívoco imperdoável da crítica mundial, um erro retumbante que vem se repetindo desde o século XIX, tocante ao pseudônimo "Lautréamont", que não é plagio de Eugène Sue. 



Sustentamos uma hipótese que exprime rigor e consistência, e eclodiu quando associamos a palavra "l'autré", que significa "o outro", com a preposição "a", que indica lugar e como sabemos ser o "a" um metaplasmo de acréscimo que chamamos de epêntese, uma vez justaposto à mont, raiz da palavra Montevidéu, resultou literalmente em Lautréamont, cujo sentido exato, preciso e incontestável é "o outro de Montevidéu", já que o primeiro seria o próprio Ducasse. Claro que um autor de tamanha genialidade não haveria de pecar por tão pouco. Cremos que sua intenção real foi criar mesmo um problema de onomástica, ciente de que amanhã haveríamos de elucidar o enigma.


Outra intrigante questão, envolve a crítica literária, que acumula ao longo dos séculos opiniões inconciliáveis sobre a obra e sobre o homem, Ducasse. E não foram poucos os críticos que, a pretexto do ofício, distanciaram-se do texto em busca de traços da sua personalidade. Nesse deslocamento de foco, a crítica literária erudita cedeu lugar de honra às flutuações psicológicas mais diversas, as quais, inevitavelmente, exageram traços de ‘psicose’ e enfatizam crises de ‘esquizoidismo’ em Ducasse, tomando Los Cantos de Maldoror como sintomas clássicos de loucura, satanismo, desvios morais e crises do inconsciente.




Na linha das opiniões inconciliáveis, de um lado Ducasse foi mordido por Jean Paul Sartre, ironizado por Albert Camus e desmerecido por Georges Luckás, e do outro lado foi exaltado por André Gide, André Breton, André Mauraux, Paul Éluard, Philippe Soupault, Gaston Bachelard, Antonin Artaud,
Salvador Dali, Walter Benjamin, Georges Bataille, Octávio Paz, Pabro Neruda, Marcelin Pleynet, e por mais uma legião de autores e fãs cuja lista não caberia neste espaço.


Mas esses confrontos de idéias justificam-se e contribuíram sobremaneira para a consolidação do mito, uma vez que, desde o princípio, Ducasse se caracteriza como um autor de leitores secretos e, ao longo do século 20, foi espicaçado, velado e louvado sob a redoma fria das academias e universidades e, nas décadas do pós-boom dos surrealistas, esteve sob a custódia silente dos núcleos mais fechados de escritores, bibliófilos e eruditos.



Entretanto, não se pode negar que os ataques, em parte, são reflexos do moralismo intelectual ou do ideal crucífero, os quais realçam bem o componente conservador ou mesmo laico de uma época romântica e preconceituosa que se estende até os dias atuais. 

Mas até mesmo os adversários reconhecem que Ducasse é autor de um texto cifrado, singular e único, porque ousou em demasia: no plágio, na crueldade, na ingenuidade, nas improbidades estilísticas, inovou em estética e levou ao extremo, tanto na ficção, quanto na vida real, a busca existencialista do impossível, onde Sartre se perdeu: Sou filho do homem e da mulher, ao que me dizem. Isso me espanta... acreditava ser mais! Ducasse parece ter compreendido melhor que Sartre e Camus, que o ímpeto rebelde e vanguardista é próprio da juventude e somente a juventude é capaz de jogar ciscos nos olhos da experiência.


Há outro ponto em que os críticos de todos os tempos convergem e se curvam: Ducasse é, verdairamente, gênio, um gênio original e senhor absoluto da sua criação. Ora, sendo ele um leitor voraz e conhecedor da problemática literária do seu tempo, é aceitável que ele sabia perfeitamente em que fronteira deveria situar-se como escritor: na fronteira tênue e contígua, entre a genialidade e a loucura. Nessa fronteira, ao criar Maldoror, um personagem desolado, sinistro, cruel, ambíguo e dilemático, Ducasse, ciente da perseguição dos tribunais contra Baudaleire, seu ídolo voluptuoso, já antevia pelo menos três situações: o silêncio da corte literária francesa; um possível esquartejamento na imprensa; e a recusa do leitor de compreender a lógica da metamorfose que norteia o enredo. 



Para não cair em desgraça, Ducasse cuidou de preservar a sua verdadeira identidade escondendo-se à sombra de Lautréamont. Nessa sombra vem ancorar-se a tese da tríplice alteridade, na qual Maldoror se revela como alter ego, ora de Luatréamont, ora do próprio Ducasse. 



Aqui, precisamente, há uma nova convergência de opiniões: Ducasse não estabeleceu um limite entre a vida e a arte, e não demarcou a fronteira entre si próprio e Lautréamont, tanto que, no enredo, o escritor, Ducasse, suprime a voz do personagem, Maldoror, para dar lugar ao narrador, Lautréamont, num jogo de espelhos em que a fúria literária e a lógica rigorosa de confronto de egos revelam, claramente, o fenômeno da dúbia alteridade como expressão do “Eu” ducasseano. Lanço um prolongado olhar de satisfação à dualidade que me compõe (...) e me acho belo.


As dualidades que aparecem de diversas formas no enredo, levaram alguns juízos a reafirmar que a cisão de personalidade em Ducasse é um claro sintoma de escrizofenia precoce. Ora, o mundo nunca parou de produzir loucos e esquizofrênicos e, no entanto, nenhum louco e nenhum esquizofrênico produziu um texto que se assemelhe a Los Cantos de Maldoror, uma obra composta de tal forma racional que, cada bloco narrativo pode ser alvo de múltiplas interpretações, tanto por sua riqueza simbólica, quanto por sua integridade, originalidade e propósito: realçar a crueldade humana e atacar o homem, essa besta fera, e o Criador, que engendrou semelhante verme.


É certo que a opção pelo anonimato, contribuiu sobremaneira para a obscuridade da obra e do autor, mas é improvável que o objetivo não tenha sido apenas para evitar problemas com os Tribunais franceses. Admite-se que pode ter sido por complexo ou receio de abrir a tumba do seu passado, tanto que escreveu num tom profético em
Poésies: Não deixarei memórias; ou para se sobrepor ao stablishiment literário do seu tempo: Os gemidos poéticos deste século não passam de sofismas horrendos(...) Desde Racine, a poesia não progrediu um milímetro. Retrocedeu. Graças aquém? Aos Grandes-Cabeças-Moles de nossa época.; ou ainda para revelar pelo avesso sua vocação póstuma, como profetiza no Canto Primeiro: O final do século dezenove verá seu poeta, e somente mais tarde, quando certos romances tiverem saído, compreendereis melhor o prefácio do renegado, de rosto fuliginoso.


Este livro, composto no claustro dos liceus sobre o phatos do ódio à
repressão é, no sentido mais amplo da literatura, um Canto à subversão, um Canto à liberdade e pode ser apreciado como o desabafo de um adolescente que não teve escolhas, como se percebe no fragmento: Quando o aluno interno, em liceu, é governado por anos que são séculos, do amanhecer até a noite e da noite até o dia seguinte, por um pátria da civilização, que não tira os olhos dele, sente as ondas tumultuosas de um ódio vivaz, a subir como uma fumarada espessa até o seu cérebro, que lhe parece a ponto de estourar. De dia seu pensamento se lança por sobre as muralhas da morada do embrutecimento, até o momento em que escapa, ou em que o expulsam, como a um empestado desse claustro eterno.


Essa é voz de Ducasse e pelo tom, percebe-se que, sem o componente de ódio, um ódio como expressão de luta individual e de resistência intelectual, seu texto perderia a sua dimensão mais original e radical. Esse ódio aparece também em oposição ao fundamento pecaminoso da repressão sexual, que é exaltado em: Eu fiz um pacto com a prostituição, afim de semear a desordem entre as famílias. Aparece também nas insinuações de pederastia, sempre associadas a um ato de extrema crueldade, de proibição e transgressão, que nos discursos assumem uma dimensão lírica ou mesmo elegíaca pela impossibilidade de realização do desejo. Numa França católica e moralista, a suposta pederastia e o bilingüismo em Ducasse, realçam bem os motivos da sua dupla exclusão social: pelo sexo e pela nacionalidade.


Portanto, a obra que temos em mãos tinha mesmo de ser escrita do modo como foi concebida: a rever e a corrigir, razão pela qual existe por si mesma desde 1868. Mas permaneceu esquecida e renegada até o final do século 19, quando, enfim, saiu do anonimato para encontrar os seus primeiros leitores. 



Somos tributários da publicação do Canto Primeiro, que veio à luz na França em agosto de 1868, à Imprimerie Balitout et Cie. Mas foi Alfred Sircus, editor de La Jeunesse, o primeiro a chamar a atenção para a obra de Lautréamont em 1868: El primer efecto producido por la lectura de este libro es la surpresa…, la extrañeza selvage, el vigor desesperado de las ideas, el contraste de este lenguaje apasionado junto com las elucubraciones más anodinas de nuestro tiempo, dejam de inmediato a nuestro espíritu en un estupor profundo… No iremos mas lejos em el examen de este libro. Basta leerlo para sentir la poderosa inspiración que lo anima, la oscura desesperación derramada en estas paginas lúgubres.


Em janeiro de 1869 o jovem editor de Bordeaux, Evariste Carrance, publica os Cantos na coletânea Parfums de L’âme, da série Littérature Contemporaine. Em meados de 1869, a versão completa de Les Chants de Maldoror é publicada na Bélgica por “Lacroix e Verboekchoven”, editores de Victor Hugo e Baudelaire. Mas esses editores, apesar de haverem embolsado 400 francos como pagamento da edição, não cumpriram o acordo editorial e esconderam a obra temendo represálias e perseguições da Suprema Corte. 

Em 1874, portanto, quatro anos após a morte de Ducasse, o livro foi posto à venda na Bélgica, com nova capa, na libraire-éditeur Jean- Baptiste Rozez. Mas teve de esperar ainda uma década para, em 1885, chegar às mãos do director da La Jeune Belgique, Máximo Waller, que o levou aos seus amigos, Iwan Gilkin, Albert Giraud, e estes lhe recomendam as leituras de Huysmans e do visionário e apocalíptico escritor, Léon Bloy. 

León Bloy
Em 1887 León Bloy dedicou um parágrafo a Lautréamont em sua novela, El Desesperado e em 1890 publicou um artigo devastador e ambíguo na Revista La Plume, no qual assevera: La contínua obseción de este infeliz Lautréamont – indudablemente un seudónimo – es en efecto el blasfemo. Y si se hace misantropo, es porque recuerda que el hombre fue hecho a semejanza de Dios. Contudo, o mesmo Léon Bloy, que chamou Lautréamont de louco e sua obra de monstro de livro, reconhece a dimensão do jovem escritor: Ese extraordinario poema en prosa, convertido en rareza bibliográfica y solamente conocido por algunos artistas que se lo pasan de mano en mano con insistentes recomendaciones, no dejará de situarse en el eje de la más activa preocupación de las almas profundas, en este fin de siglo… Esse Lautréamont, o mais deplorável, o mais dilacerante dos alienados. As litanias satânicas de As Flores do Mal, se comparadas a esse monstro de livro, assumem repentinamente um certo ar de anódina carolice.


Los Cantos de Maldoror vão viver então uma nova vida quando León Genonceaux o reedita na França em 1890, com um prefácio curto no qual critica Léon Bloy, que lhe havia sugerido a publicação de Lautréamont e defende a sua iniciativa editorial escrevendo: Hemos pensado que la reedición de una obra tan interessante como ésta habría de ser bien recebida. Sus vehemencias de estilo no habrán de sorpreender una época tan literaria como la nuestra. Por más extremas que sean, conservan una profunda belleza y no revisten el menor carácter pornográfico. La crítica sabrá apreciar como corresponde estos Cantos de Maldoror, poema extraño y desigual, donde se suceden en furioso desorden, episodios admirables y otros a veces confusos.


Rubém Darío
Em 1896, Rubén Darío, influenciado por Léon Bloy, publica em seu livro Los Raros, um ataque feroz contra Lautréamont: Su nombre verdadero se ignora... Él se dice montevideano; pero ¿quién sabe de la verdad de esa vida sombría, pesadilla tal vez de algún triste ángel a quien martiriza en el empireo el recuerdo del celeste Lucifer? Vivió desventurado y murió loco. O mesmo Rubén Dário se curva ao genio dizendo: Escribió un libro que sería único si no existiesen las prosas de Rimbaud; El no pensó jamás en la gloria literaria. No escribió sino para si mismo. Nacio con la suprema llama genial, y esa misma lê consumió.


Como que indiferente à ciclotimia crítica, um novo ciclo começa após a 1ª Guerra Mundial, com a apropriação de Lautréamont pelos surrealistas, que o declaram, o poeta maior da modernidade, o único escritor íntegro, insuspeito e que não teria feito concessões nem mesmo a sí próprio. André Breton, seduzido pela idéia de
Adicionar legenda
comunização da literatura proposta por Lautréamont, A poesia deve ser feita por todos, e não por um, copia Poésies I e II na Biblioteca Nacional de Paris e juntamente com Aragon e Soupault, publicam-na em 1919 na revista Littérature. 

André Malraux - 1939
Em 1920 sai uma nova edição de Los Cantos de Maldoror, cabendo a André Malraux a árdua tarefa de apontar as diferenças entre a primeira versão, de 1868, e a edição publicada na Bélgica, por Lacroix, em 1869.


É provável que André Gide tenha compreendido melhor Lautréamont do que os próprios surrealistas, anunciando: Lautréamont jamais admitiria confessar os motivos psicológicos e a causa da sua revolta
André Gide
contra todas as convenções da existência do mundo.(...) Sua influência ao longo do século XIX foi nula, porém ele é como Rimbaud, talvez mais que Rimbaud, o padrão para aqueles que surgirão na literatura do amanhã.


Em janeiro de 1928, François Alicot presta um grande serviço, entrevistando Paul Lespés, condiscípulo de Ducasse nos Liceus de Tarbes e Pau e filho de Jean Dazet, tutor de Ducasse. Alicot extraiu de George Dazet preciosas informações sobre o vulto de Isidore Ducasse: 

Conheci Ducasse no Liceu de Pau, no ano de 1864. Ele estava comigo e com Minville na classe de retórica e no mesmo curso. Ainda vejo aquele rapaz grande, magro, as costas meio curvas, a tez pálida, os cabelos compridos caindo atravessados sobre a testa, a voz meio estridente. Sua fisionomia nada tinha de atraente. Habitualmente, era triste e silencioso, como se estivesse dobrado sobre si mesmo. Por duas ou três vezes, falou-me com uma certa animação dos países de além-mar onde se levava uma vida livre e feliz. Com freqüência, na sala de estudos, passava horas com os cotovelos apoiados na carteira, mãos na cabeça e os olhos fixos em um livro clássico que não lia. Via-se que estava mergulhado em um devaneio.
Eu achava, como meu amigo Minville, que ele sentia saudades e que a melhor coisa que seus pais poderiam fazer seria levá-lo de volta a Montevidéu. (...) 


Adotado pela geração de Lorca e Alberti, Lautréamont é considerado por Otávio Paz como a Águia real, a águia negra da poesia universal. 


Le Clézio

Jean-Marie Gustev Le Clézio (Nobel da Literatura em 2008), no prefácio da edição preparada por Hubert Juin, fala de uma obra primitiva e única, que não tem paralelos em nossa tradição literária. Marcelin Pleynet, em Lautréamont par lui-même, Éditions du Seuil, 1967, escreve: É o livro mais radical de toda a literatura universal.



Construída em forma de relatos ficcionais, a obra de Ducasse amplia as possibilidades da ficção e das estruturas dramáticas lineares e, ao mesmo tempo desarticula, de uma vez, o paradigma da narrativa dramática estruturada sobre os pilares da lógica aristotélica de: começo, meio e fim. E foi mais longe: transformou a palavra em entidade sonora e a metáfora em entidade pensante, o que nos impossibilita tentar suprimir dos Cantos a exatidão lógica da sua desordem, pois, num movimento do pensamento, a metáfora que já havia encontrado um lugar, um tempo e um significado exato, evola-se, e salta dos sentidos para adquirir, em seguida, uma forma transfigurada de ascese.


Lautréamont, um anticanônico que ergueu sob os próprios ossos uma catedral de metáforas, agora é elevado à categoria de clássico universal, ganhando edições e reedições sucessivas em todas as línguas e países do planeta. 

Manuel Serrat Crespo e Ruy Câmara 
Devemos uma parte dessa construção secular aos seus tradutores, editores e leitores de todas as línguas, que ousaram reescrever, publicar e ler sua obra, muito mais por paixão do que por recompensas, como é o caso do veterano e exemplar tradutor e escritor, Manuel Serrat Crespo, homem de letras possantes, condecorado por mérito e reconhecido pelo talento, que agora me concede a honra de poder compartilha com seu feito tradutório, acolhendo este prólogo, através do qual eu expresso o meu entusiasmo de poder celebrar a nossa irmandade, entregando aos leitores de língua espanhola a obra de Ducasse, que também é de Manuel Serrat Crespo (traduzir e reescrever) e que aparece no início do século 21, graças à luminosa idéia de Pere
Editores, Pere Sureda, Ilse Fonte, Ana Catrecasas e Ruy Câmara
Sureda e Ilse Font, editores da Belacqva, cujo selo estampa também a obra que me furtou quatro anos de pesquisas e mais três de escritura, e que vem à luz em língua espanhola com o título, Cantos de Otoño, la novela de la vida de Lautréamont. 


Portanto, reeditar Los Cantos de Maldoror após 139 anos da sua primeira publicação, juntamente com a biografia ficcional de Lautréamont, é a afirmação real e concreta da validade da arte pala arte mesma; é validar o caráter subversivo e libertário do criador, privilegiando o homem e a obra, que se completam e se confundem na entidade pensante que jaz e se eterniza no vulto de Isidore Ducasse. 

Com essas edições primorosas que a Belacqva entrega aos leitores de língua espanhola, fica patente que, no domínio da arte só pode existir concretamente aquilo que antes existia simbolicamente.


Finalizo este prólogo com esperança de que os leitores latino-americanos apreciem com vagar essas obras e compreendam a razão pela qual a ficção do autor não pode consentir que a racionalidade pura se aposse dos espaços reservados aos sonhos.

Ruy Câmara
                                                          Escritor



THE LAST SONGS OF AUTUMN - The Shadowy Story of the Mysterious Count of Lautréamont
Tradução: John Jensen 

LES DERNIERS CHANTS d'AUTOMNE: La Vie Mystérieuse et Sombre du Comte de Lautréamont (French Edition) 
Tradução: Marie-Hélène Paret Passos

CANTOS DE OTOÑO, Novela de la Vida de Lautréamont (Spanish Edition) 
Tradução: Basilio Losada

CANTOS DE OUTONO, ROMANCE DA VIDA DE LAUTRÉAMONT (Portuguese Edition) 

CANTECE DE TOAMÑA (Romanian Edition) 
Tradução: Iulia Baran


Edições disponíveis em 58 países, em todos os formatos digitais da indústria: paperback, hardcover, ebook, kindle. etc


COMUNICAÇÃO de Ruy Câmara 

As Impressões Biográficas de Lautréamont
Local : Barcelona - Dia 24.11.206
Aniversário de morte de Isidore Ducasse (136 anos) 
VIII Colloque International Lautréamont

Organisation

PEN Club de Catalogne
Association des Amis Passés Présents et Futur d’Isidore Ducasse (AAPPFID)
Groupe de Recherches sur les Écritures Subversives (GRES)


Comité Scientifique
Josep Palau i Fabre (Catalunya)
Vicenç Altaió (KRTU, Catalunya), Carme Arenas (Pen Català), Henri Béhar (Université Sorbonne-Nouvelle, Paris), Roger Mirza (Universidad de la República, Montevideo), Peter W. Nesselroth (Université de Toronto), Michel Pierssens (Université de Montréal),  Manuel A. Tost (Universitat Autònoma de Barcelona), Hidehiro Tachibana (Université Waseda, Tokyo).

Comité d’organisation

Rossend Arqués (PEN), Núria d’Asprer (GRES), Mª Dolors Cañada (UPF),
Jordi Cerdà (GRES), Anna Corral (UAB), Geneviève Michel (GRES),
Ricard Ripoll (PEN-GRES), Simona Škrabec (PEN).


Meu primeiro contato com a obra de Lautréamont foi silenciosamente impactante. Devo esse contato ao meu querido amigo, poeta José Alcides Pinto, quem em 1991 me enviou um faxsímile d’Os Cantos de Maldoror juntamente com um bilhete no qual dizia: “Ruy, cometi um delito numa biblioteca de um amigo para compartilhar contigo o banquete literário de Lautréamont.”  

Mi primer contacto con la obra de Lautréamont fue silenciosamente impactante. Debo ese contacto a mi querido amigo, el poeta José Alcides Pinto, quien en 1991 me envió un facsímil de “Los Cantos de Maldoror” junta con una nota en la que decía: “Cometí un delito en la biblioteca de un amigo para compartir contigo el banquete literario de Lautréamont.”

Num breve virar de página, já era irremediavelmente tarde para fugir da armadilha. De um hausto li até o final do Canto Quinto de Maldoror e não vi quando aquela tarde se fez noite, nem quando as estrelas sumiram do céu de Fortaleza, de tão absorvido que eu estava, lendo aquela escritura alquímica e alucinatória que perfurava a negra paisagem de minha mente à procura de uma ancoragem.

En un breve girar de página, ya era irremediablemente tarde para huir de la trampa. De un tirón leí hasta el final del Canto Quinto de Maldoror y no vi cuándo aquella tarde se hizo noche, ni cuándo las estrellas desaparecieron del cielo de Fortaleza, de tan absorto que yo estaba, leyendo aquella escritura alquímica y alucinadora que perforaba el negro paisaje de mi mente en busca de un anclaje.

Fui deitar-me com uma parte da obra decifrada entre tantos códigos, mas não consegui dormir ao amanhecer, em primeiro lugar porque, ninguém sobrevive impunemente após um mergulho nas trevas de um gênio, e em segundo lugar porque de fato eu procurava um ente como Lautréamont, acuado no seu próprio dilema, sem espaço para se expressar, sem o recurso que se busca nas alturas e insubmisso à lógica vigente. Talvez eu andasse em busca do meu “eu essencial”, ou de um autor que me permitisse compreender algo que jaz no íntimo mais profundo de cada grande poeta e escritor. 

Fui a acostarme con una parte de la obra descifrada entre tantos códigos, pero no conseguí dormir al amanecer, en primer lugar porque, nadie sobrevive impunemente después de uno buceo en las tinieblas de un genio, y en segundo lugar porque de hecho yo buscaba un ente como Lautréamont, acorralado en su propio dilema, sin espacio para expresarse, sin el recurso que sebusca en las alturas e insumiso a la lógica vigente. Tal vez yo anduviera en búsqueda de mi “yo esencial”, o de un autor que me permitiera comprender algo que yace en lol íntimo más profundo de cada gran poeta y escritor.

Digo isso porque naquela época eu sobrevivia a uma perda insuperável e a vida para mim já não tinha mais nenhum encanto. Tanto que decidi abandonar uma promissora carreira empresarial para me dedicar exclusivamente ao ofício literário, que era um sonho antigo. O grande problema era encontrar um personagem incomum que encarnasse em si o desencanto que aflige o indivíduo oprimido pela família, pela sociedade e pelo Estado.

Digo eso porque en aquella época yo sobrevivía a la muerte de mi hija menor y la vida para mí ya no tenía ningún encanto. Tanto que decidí abandonar una prometedora carrera empresarial para dedicarme exclusivamente al oficio literario, que era un sueño antiguo. El gran problema era encontrar un personaje raro que encarnara en sí el desencanto que aflige al individuo oprimido por la familia, por la sociedad y por el Estado.

O espanto provocado pela morbidez violenta da obra despertou-me o interesse de conhecer e de desvelar o mistério sobre o Conde de Lautréamont. Mas, por onde começar? A partir de epítomes recortados d’Os Cantos de Maldoror?  Das pistas biográficas deixadas pelos autores que me antecederam na empreitada? Do minguado documental em poder dos colecionadores, livreiros e alfarrabistas? Quem patrocinaria um autor em início de carreira para levar adiante um projeto de tamanha complexidade e envergadura? Para tais perguntas eu não tinha resposta, mas apenas a curiosidade imperiosa de conhecer os pormenores da vida  de “Isidore Ducasse”.

El asombro provocado por la morbidez violenta de la obra me despertó el interés de conocer y de desvelar el misterio sobre el Conde de Lautréamont. Pero, ¿or donde comenzar? ¿A partir de epítomes recortados de Los Cantos de Maldoror? ¿De las pistas biográficas dejadas por los autores que me antecedieron en la empresa? Del menguado documental en poder de los coleccionistas, libreros y libreros de viejos? ¿Quien patrocinaría a un autor al inicio de su carrera para llevar adelante un proyecto de tamaña complejidad y envergadura? Para tales preguntas yo no tenía respuesta, tenía sólo la curiosidad imperiosa de conocer los pormenores de la vida de Isidore “Ducasse”.


Ainda lembro do rosto de pavor de minha mulher, quando reuni a família e anunciei que havia decidido sair no rastro desse fantasma genial que ainda hoje deambula sem rumo na mente dos autores de inúmeros países e idiomas. A aventura que começou no Brasil em julho de 1995, logo se estendeu para Montevidéu (onde o espírito de Lautréamont teria se formado) cruzamos o Atlântico e chegamos na França, onde passamos uma temporada em Paris examinando registros, consultando obras e refazendo com os ânimos acesos aqueles trajetos, de onde seguimos, no sentido inverso o rastro deixado por Lautréamont, desde Tarbes, Pau, Bayonne e Biarritz até Montevidéu. 

Aún me acuerdo del rostro de pavor de mi mujer, cuando reuní a la familia y anuncié que había decidido seguir el rastro de ese fantasma genial que aún hoy deambula sin rumbo en la mente de los autores de incontables paises e idiomas. La aventura que comenzó en Brasil en julio de 1995, inmediatamente se extendió hasta Montevideo (donde el espíritu de Lautréamont se había formado), cruzamos el Atlántico y llegamos a Francia, donde pasamos una temporada en París examinando registros, consultando obras y rehaciendo con el ánimo encendido aquellos trayectos, de donde seguimos, en el sentido inverso el rastro dejado por Lautréamont, desde Tarbes, Pau, Bayonne y Biarritz hasta Montevideo.

No início eu tinha convicção de que havia material suficiente para uma biografia fidedigna, mas com o andar das pesquisas fui descobrindo o contrário. Aí, precisamente, vi-me envolvido numa armadilha real. Já havia consumido boa parte das minhas economias com tantas viagens e não conseguia vislumbrar nenhuma direção a tomar. 

Em agosto de 1997 refiz todo o percurso e continuei pesquisando nos liceus, bibliotecas, livrarias e museus. Após alguns meses de investigação, paralisei o trabalho, supondo que estava diante de um enigma indesvelável e que seria impossível reinventar Lautréamont. Como não havia recursos para financiar as novas buscas, em 1998 passei o ano inteiro lendo e relendo uma centena de textos que eu havia reunido nas expedições anteriores. Mas faltavam nesses artigos os elementos biográficos que eu precisava para fundamentar meu projeto.

Al principio yo tenía la convicción de que había material suficiente para una biografía fidedigna, pero en el transcurso de las investigaciones fui descubriendo lo contrario. Ahí, precisamente, me vi envuelto en una trampa real. Ya había consumido buena parte de mis ahorros con tantos viajes y no conseguía vislumbrar ninguna dirección a tomar. En agosto de 1997 rehice todo el recorrido y continué investigando en los liceos, bibliotecas, librerías y museos. Después de algunos meses de investigación, paralicé el trabajo, suponiendo que estaba delante de un enigma indesvelable y que sería imposible reinventar a Lautréamont. Como no había recursos para financiar las nuevas búsquedas, en 1998 pasé el año entero leyendo y releyendo un centenar de textos que yo había reunido en las expediciones anteriores. Pero faltaban en esos artículos los elementos biográficos que yo necesitaba para fundamentar mi proyecto. 

Em 1999 desembarquei em Montevidéu, reuni o que havia sido
publicado sobre Lautréamont e segui para Bruxelas, onde tive a idéia de reconstituir o primeiro encontro do jovem Isidore Ducasse com um Baudelaire afásico. 

Em julho 2000 refiz novamente o percurso, mas ao final da peregrinação tudo o que havia e que poderia fundamentar a existência de Isidore Ducasse, resumia-se em mais de quatrocentos livros dos autores que haviam escrito sobre Lautréamont, um faxsímile de Les Chants de Maldoror, edição de 1868, que eu havia comprado de um alfarrabista em Lisboa; um livro inacabado, intitulado Poesias, a certidão de nascimento de Ducasse, que puseram em
minhas mãos na Cúria de Montevidéu, as cópias das 7 cartas de Ducasse, uma foto de sua formatura no antigo Liceu Imperial de Pau, e um faxsímile do atestado de óbito, expedido pela prefeitura do Sena em 1870.


En 1999 desembarqué en Montevideo, reuní lo que había sido publicado sobre Lautréamont y seguí hacia Bruselas, donde tuve la idea de reconstruir el primer encuentro del joven Isidore Ducasse con un Baudelaire afásico. En julio 2000 rehice nuevamente el recorrido, pero al final de la peregrinación todo lo que había y que podría fundamentar la existencia de Isidore Ducasse, se resumía a un puñado de libros de los autores que habían escrito sobre Lautréamont, un facsímil de Les Chants de Maldoror, edición de 1868, que yo había comprado a un librero de Lisboa; un libro inacabado, intitulado Poesías, el certificado de nacimiento de Ducasse, que pusieron en mis manos en la Catedral de Montevideo, las copias de las siete cartas de Ducasse, una foto de su graduación en el antiguo Liceo Imperial de Pau, y un facsímil del certificado de defunción, expedido por el ayuntamiento del Sena en 1870.


Em 2000, quando sentei para escrever Cantos de Outono, o romance da vida de Lautréamont, sem saber sequer se encontraria um editor no Brasil, comecei a experimentar na própria carne um sofrimento quase expiatório. Nos momentos de absoluta incriatividade, pensei em abandonar o projeto. Acreditei que havia chegado naquele ponto intransponível em que alguns autores que me precederam acabaram esbarrando. Noutro momento, quando surgia uma nova pista ou uma idéia mais ousada, o trabalho era retomado com tanta euforia, que ficava difícil conter o ímpeto. Em verdade eu sentia os efeitos nocivos das minhas limitações materiais e intelectuais para continuar o trabalho. Estava claro que o “nada biográfico” de Isidore Ducasse estava me levando à frustração. A dificuldade maior foi  achar o momento certo para penetrar na sua redoma de tédio e desvelar o seu universo, um anti-universo obscuro e aterrador, que se encolhia a cada tentativa minha de sondar as suas profundezas.

En el año 2000, cuando me senté para escribir Cantos de Otoño, la novela de la vida de Lautréamont, comencé a experimentar en mi propia carne un sufrimiento casi expiatorio. En los momentos de absoluta increatividad, pensé en abandonar el proyecto. Creí que había llegado a aquel punto intrascendente en que algunos autores que me precedieron acabaron fracasando. En otro momento, cuando surgía una nueva pista o una idea más osada, retomaba el trabajo con tanta euforia, que me resultaba difícil contener el ímpetu. Realmente yo sentía los efectos nocivos de mis limitaciones materiales e intelectuales para continuar el trabajo. Estaba claro que la nada “biográfica” de Isidore Ducasse estaba llevándome a la frustración. La dificultad mayor fue hallar el momento correcto para penetrar en su tedio y desvelar su universo, un anti-universo oscuro y desgarrador, que menguaba a cada tentativa mía de sondear sus profundidades.

Demorei dois anos mas para estruturar as curvas dramáticas da obra, temendo atentar contra a vontade dolorosa e degradada do meu personagem. Talvez por isso, alguns biógrafos que se lançaram nessa aventura não tiveram êxito. Outros, por questões elementares de rigor e ortodoxia, ou porque se viram diante de um vulto estranhíssimo e estigmatizado por um encadeamento sucessivo de algenias e esquecimentos, simplesmente desistiram da empreitada.

Tardé dos años en estructurar las curvas dramáticas de la obra, temiendo atentar contra la voluntad dolorosa y degradada de mi personaje. Tal vez por eso, algunos biógrafos que se lanzaron a esa aventura no tuvieron éxito. Otros, por cuestiones elementales de rigor y ortodoxia, o porque se vuelcan delante de una figura extrañisima y estigmatizada por un encadenamiento sucesivo de dificultades y olvidos, simplemente desistieron de la empresa.

Só depois, quando visualizei as circunstâncias que poderiam me levar ao desfecho, percebi que, quando a arte precisa triunfar sobre a racionalidade seca e objetiva exigida numa dada ação, minha consciência escapava para a anti-sala da razão e eu me via novamente perambulando em Montevidéu, Tarbes, Pau, Paris e Bruxelas, ora diante de uma tumba, ora encafuado naqueles cenários taciturnos, cercado de pensamentos e aflições, como se fizesse parte de todo aquele imaginário que eu recriava.

Sólo después, cuando visualicé las circunstancias que podrían llevarme al desenlace, percibí que, cuando el arte necesita triunfar sobre la racionalidad seca y objetiva exigida en una  acción dada, mi conciencia escapaba a la anti-sala de la razón y yo me veía nuevamente deambulando por Montevideo, Tarbes, Pau, París y Bruselas, ora delante de una tumba, ora encerrado en aquellos escenarios taciturnos, cercado de pensamientos y aflicciones, como si formara parte de todo aquel imaginario que yo recreaba.

Dias ou mesmo semanas numa página que não se resolvia. Nas altas noites, quantas vezes me vi só, inteiramente perdido nas veredas flexuosas e escuras das próprias idéias, preso às abstrações mais complexas da mente de Lautréamont, sem saber como conduzir Isidore Ducasse para uma conclusão. 

Dias o incluso semanas en una página que no se resolvía. En las altas noches, cuantas veces me vi sólo, enteramente perdido en las veredas flexuosas y oscuras de las propias ideas, preso en las abstracciones más complejas de la mente de Lautréamont, sin saber cómo conducir a Isidore Ducasse a una conclusión.

Lembro-me bem de um episódio ocorrido em Paris, no quarto 56 do Hotel do Cais Voltaire, o mesmo que serviu de refúgio e covil a Baudelaire, Wagner, Lautréamont e Oscar Wilde, que me obrigou a refletir e a reescrever os momentos que precederam o suicídio de Isidore Ducasse. Era madrugada. Relâmpagos, trovões e ventava, e chovia intensamente. Eu estava completamente esgotado e desmotivado para escrever o epílogo. Já havia bebido uma garrafa de vinho tinto quando tive a estranha sensação de que o gênio de Lautréamont conseguia transitar livremente nas zonas de intransitividade dos meus sentidos. O que ocorreu ali, aos parâmetros da razão absoluta, parece suprareal, mas aos parâmetros da arte, tudo é possível. E naquela noite outonal de 24 de novembro de 2000, pondo em confronto aquilo que Marcelin Pleynet aventou sobre o contraste da dupla alteridade entre Ducasse e Lautréamont, consegui, finalmente, levá-los ao calvário e finalizei o livro.

Recuerdo bien un episodio ocurrido en París, en el cuarto 56 del Hotel del  Cais Voltaire, el mismo que sirvió de refugio y cubil a Baudelaire, Wagner, Lautréamont y Oscar Wilde, que me obligó a reflexionar y a reescribir los momentos que precedieron el suicidio de Isidore Ducasse. Era madrugada. Relámpagos, truenos y tempestad, y llovía intensamente. Yo estaba completamente agotado y desmotivado para escribir el epílogo. Ya había bebido una botella de vino tinto cuando tuve la extraña sensación de que el genio de Lautréamont conseguía transitar libremente por las zonas intransitables de mis sentidos. Lo que ocurrió allí, para los parámetros de la razón absoluta, parece suprarreal, pero para los parámetros del arte, todo es posible. Y en aquella noche otoñal de 24 de noviembre de 2000,  enfrentando aquello que Marcelin Pleynet expuso sobre el contraste de la doble alteridad entre Ducasse y Lautréamont, conseguí, finalmente, llevarlos al calvario y finalicé el libro.

Voltei ao Brasil, fiz as revisões de praxe, empacotei o original e o enviei juntamente com um cartão à minha Editora:  Cantos de Outono, o romance da vida de Lautréamont é o final de um percurso realizado, um percurso que dificilmente ousarei repetir”. Nesta obra eu conto a história de um vulto finisecular, de espírito latino e mentalidade céltica, um vulto que reintroduz na literatura a lógica do delírio, a escrita da negação, a necessidade do plágio, a crise de identidade do sujeito moral, um vulto que pensou a obra literária como diálogo entre textos, um texto onde as idéias mais ousadas se sucedem sem a preocupação com a continuidade ou com o princípio da identidade.

Volví a Brasil, hice las revisiones normales, empaqueté el original y lo envié junto con una tarjeta a  mi Editora, en la que decía: “Cantos de Otoño, el romance de la vida de Lautréamont es el final de un recorrido realizado, un recorrido que difícilmente osaré repetir”. En esta obra yo cuento la historia de una figura finisecular, de espíritu latino y mentalidad céltica, una figura que reintroduce en la literatura la lógica del delirio, la escritura de la negación, la necesidad del plagio, la crisis de identidad del sujeto moral, una figura que pensó la obra literaria como diálogo entre textos, un texto donde las ideas más osadas se suceden sin la preocupación por la continuidad o por el principio de la identidad.


Reconheço que foi uma ousadia, senão um atrevimento de minha parte adentrar no universo imaginário e impreciso de Isidore Ducasse para reinventar Lautréamont nos contextos de sua época. Não posso negar que foi a aventura mais ousada em que me lancei ao longo de toda a minha vida. 

Ducasse nunca foi e nunca será um personagem de fácil alcance. Para conseguir me aproximar um pouco da sua presença-ausente, ou melhor, da sua maneira invisível de aparecer, eu tive de cavar nos abismos insondáveis da sua memória literária, subi ao cume da sua imaginação com toda a minha carga de verdades e arremessei tudo nas páginas de Cantos de Outono. Nessa obra o que procurei fazer, além de exprimir a estética ducasseana e abranger os pormenores mais prováveis de sua vida, foi dotar de sentido os seus pesadelos, o seu imaginário, a sua fúria incontida, a sua lógica de composição, sempre em confronto com o racionalismo vigente. 


Reconozco que fue un atrevimiento mío adentrarme en el universo imaginario y borroso de Ducasse para reinventar a Lautréamont en los contextos de su época. No puedo negar que fue la aventura más osada a la que me lancé a lo largo de toda mi vida. Ducasse nunca fue y nunca será un personaje de fácil alcance. Para conseguir aproximarme un poco a su presencia-ausente, o mejor, a su manera invisible de aparecer, yo tuve que cavar en los abismos insondables de su memoria literaria, subí a la cumbre de su imaginación con toda mi carga de verdades y lo recogí todo en las páginas de Cantos de Otoño. En esa obra lo que busqué hacer, además de expresar la estética ducasseana y comprender los pormenores más probables de su vida, fue dotar de sentido sus pesadillas, su imaginario, su furia incontenida, su lógica de composición, siempre en enfrentamiento con el racionalismo vigente.


Procurei reinventar Lautréamont como se buscasse uma síntese própria de compreensão para justificar a maior estupidez humana: o suicídio. Motivado por essa secretíssima tentação, percebi nos “Cantos” que Lautréamont se desloca nos espaços imaginários da própria ficção e atua num tempo narrativo que se projeta e se contrai para nos dar uma nova dimensão do universo que Isidore Ducasse supostamente gostaria de criar ou de destruir ao seu modo.


Intenté reinventar a Lautréamont como si recogiera una síntesis propia de comprensión para justificar la mayor estupidez humana: el suicidio. Motivado por esa secretísima tentación, percibí en los “Cantos” que Lautréamont se desplaza en los espacios imaginarios de la propia ficción y actúa en un tiempo narrativo que se proyecta y se contrae para  dar una nueva dimensión del universo que Isidore Ducasse supuestamente quisiera crear o destruir a su modo.

O suicídio de Célestine foi um incidente insuperável na vida de Isidore Ducasse e foi decisivo na formação da sua personalidade e do seu caráter. Servi-me desse ponto de partida para estruturar toda a ação dramática do romance. O incidente passou a ser uma lacuna e uma solução para o encadeamento do processo. Nos pesadelos de Isidore Ducasse a figura da mãe aparecia sempre como uma imagem entressonhada. Quando ele se viu transplantado de Montevidéu para uma prisão escolar no sul da França, a idéia maligna do suicídio passou a ser encarada por ele como uma forma de ruptura com qualquer fundamentação absoluta. Apesar de tudo, o ódio que ele sentia ou fingia sentir pelo mundo e pelo pai, não resistia a um naco de afeto. Não era um ódio legítimo.

El suicidio de Célestine fue un incidente insuperable en la vida de Isidore Ducasse y fue decisivo en la formación de su personalidad y de su carácter. Me serví de ese punto de partida para estructurar toda la acción dramática del romance. El incidente pasó a ser una laguna y una solución para el encadenamiento del proceso. En las pesadillas de Isidore Ducasse la figura de la madre aparecía siempre como una imagen entressonhada. Cuando él se vio trasplantado de Montevideu para una prisión escolar en el sur de Francia, la idea maligna del suicidio pasó a ser encarada por él como una forma de ruptura con cualquier fundamentación absoluta. A pesar de todo, el odio que él sentía o fingía sentir por el mundo y por el padre, no resistía a un naco de afecto. No era un odio legítimo.


Minha investigação chegou ao pseudônimo “Lautréamont” já que Ducasse é acusado por inúmeros autores de haver plagiado seu cognome a partir de uma corruptela de Lautréaumont, nome de um personagem do escritor inglês, Eugène Sue, autor de Les Mystères de Paris. Eu sustento o contrário, ou seja, que ele inventou para si um cognome extremamente original e estranho, tanto e quanto a etimologia da palavra e o significado que pretendia dar.


Mi investigación llegó al pseudónimo “Lautréamont” ya que Ducasse es acusado por incontables autores de haber plagiado su cognome a partir de una corruptela de Lautréaumont, nombre de un personaje del escritor inglés, Eugène Sude, autor de Les Mystères de París. Yo sostengo el contrario, o sea, que él inventó para sí un cognome extremadamente original y extraño, tanto y cuanto la etimología de la palabra y el significado que pretendía dar.

Comecei o exame fazendo a junção de duas palavras, de cujos significados tiveram grande relevância na vida do poeta, e fui levado a crer que ele, astutamente, manipulou os fonemas do substantivo masculino, baccalauréat, que significa bacharelado, e o fez com o recurso de um metaplasmo de permuta, que chamamos de metátese, donde retiramos o adjetivo lauréat, que significa laureado ou premiado em concurso acadêmico. Em seguida, num despropositado deslocamento do t final para o meio, ele poderia ter formado a palavra derivada lautréa, que acrescida de mont, raiz da palavra Montevidéu, sua cidade natal, resulta em Lautréamont, cujo sentido final quer denotar “o laureado de Montevidéu.”

Comencé el examen haciendo la unión de dos palabras, de cuyos significados tuvieron gran relevancia en la vida del poeta, y fui llevado a creer que él, astutamente, manipuló los fonemas del sustantivo masculino, baccalauréat, que significa diplomatura, y lo hizo con el recurso de un metaplasmo de permutación, que llamamos de metátese, donde retiramos el adjetivo lauréat, que significa laureado o premiado en concurso académico. Enseguida, en un despropositado desplazamiento del “t” final para el medio, él podría haber formado la palabra derivada lautréa, que aumentada de mont, raíz de la palabra Montevideu, su ciudad natal, resulta en Lautréamont, cuyo sentido final quiere denotar “el laureado de Montevideu.”

Com o andar das leituras, cheguei a conclusão de que o castelhano sempre esteve na gênese do pensamento de Isidore Ducasse. As vozes que ele fez reverberar nos Cantos de Maldoror nada mais são do que os ecos da sua infância em Montevidéu. Não há como negar que o castelhano tem grande influência na sua composição e na sua linguagem. Percebe-se isso até mesmo nas suas improbidades estilísticas, que são, de fato, as marcas que caracterizam um autor em processo contínuo de mutação. Em função dessas flutuações ele se via constantemente ameaçado de falência criativa. Como ignorar que o seu pseudônimo e o personagem Maldoror são reflexos da sensação sinóptica de tudo o que Isidore Ducasse apreendia como experiência sensível na infância?

Con el avanzar de las lecturas, llegué la conclusión de que el castellano siempre estuvo en la génesis del pensamiento de Isidore Ducasse. Las voces que él hizo reverberar en los Cantos de Maldoror nada más son que los ecos de su infancia en Montevideu. No hay como negar que el castellano tiene gran influencia en su composición y en su lenguaje. Se percibe eso incluso en sus improbidades estilísticas, que son, de hecho, las marcas que caracterizan un autor en proceso continuo de mutación. En función de esas fluctuaciones él se veía constantemente amenazado de suspensión creativa. Como ignorar que su pseudónimo y el personaje Maldoror son reflejos de la sensación sinóptica de todo lo que Isidore Ducasse incautaba como experiencia sensible en la infancia?

Fundamentado na tese do bilingüismo em Ducasse, sugiro neste colóquio internacional que façamos um reparo necessário quanto a um erro imperdoável da crítica mundial,  um erro que vem se repetindo desde o século XIX, tocante ao pseudônimo “Lautréamont”, que não é plagio de Eugène Sue. Sustento uma hipótese que exprime rigor e consistência, e surgiu da associação da palavra “l’autré”, que significa “o outro”, com a preposição “a”, que indica lugar e como sabemos ser o “a” um metaplasmo de acréscimo que chamamos de epêntese, uma vez justaposto à mont, raiz da palavra Montevidéu, resultou literalmente em Lautréamont, cujo sentido exato, preciso e incontestável é “o outro de Montevidéu”, já que o primeiro seria ele próprio.  Claro que um autor de tamanha genialidade não iria pecar por tão pouco.  Creio que sua intenção real foi criar mesmo essa confusão, ciente de que manhã alguém haveria de chegar à verdade.


Fundamentado en la tesis del bilingüismo en Ducasse, sugiero en este coloquio internacional que hagamos una reparación necesaria cuanto a un error imperdonable de la crítica mundial, un error que viene repitiéndose desde el siglo XIX, tocante al pseudónimo “Lautréamont”, que no es plagio de Eugène Sude. Sostengo una hipótesis que expresa rigor y consistencia, y surgió de la asociación de la palabra “l’autré”, que significa “el otro”, con la preposición “a ,”que indica lugar y como sabemos ser lo “” a un metaplasmo de aumento que llamamos de epêntese, una vez yuxtapuesto a la mont, raíz de la palabra Montevideu, resultó literalmente en Lautréamont, cuyo sentido exacto, preciso e incontestable es “el otro de Montevideu”, ya que el primero sería él propio. Claro que un autor de tamaña genialidad no iría a pecar por tan poco. Creo que su intención real fue crear esa confusión, conocedora de que mañana alguien habría de llegar a la verdad.


Para mim, a obra de Ducasse representa o prazer ilimitado de compor sonhando e entresonhando o humano mais radical, e seu projeto literário repropõe a anulação tácita da norma lingüística e a libertação total da idéia com seus postulados estéticos. Podemos mensurar a importância de Ducasse para o tempo em curso pela influência que ele exerceu e exerce nos autores mais exigentes ao longo do século XX.

Para mí, la obra de Ducasse representa el placer ilimitado de componer soñando y entresoñando el humano más radical, y su proyecto literario repropone la anulación tácita de la norma lingüística y la liberación total de la idea con sus postulados estéticos. Podemos medir la importancia de Ducasse para nuestro tiempo por la influencia que él ejerció y ejerce en los autores más exigentes a lo largo del siglo XX.

Gaston Bachelard identificou nos Cantos de Maldoror que o homem é um animal instintivo, que tem toda a animalidade a sua disposição. É o agente totalizador do mal, um mal que hiberna e evolui de forma ambígua para a esfera social. E foi absolutamente preciso quando disse que, atribuir uma forma humana à animalidade de Maldoror seria retardá-la, seria fazê-la perder a grandeza do ato automático, seria o mesmo que impor racionalidade pura numa ação abrupta, reflexo do instinto. A densidade animalesca ocupa todo o cenário da ação. Quando Lautréamont realça a dor, não atribui a dor uma causa decorrente de uma ação, mas a uma duração temporal. “O que queima não é a chama, mas o tempo de exposição ao calor”. Percebe-se que a sua vontade de viver colide com o querer atacar, que ganha uma aceleração imediata. O ser agressivo de Lautréamont ataca num momento em que nenhuma ação é esperada. Contrariando essa mesma lógica, o rinoceronte aparece no enredo como um deus pesado e inativo e não tem, apesar dos chifres, qualquer ação ofensiva. Quando a serpente devora um animal gigantesco, sua boca  cresce como se o órgão entendesse o tamanho do seu apetite. O bico que estala quando a coruja branca, em seu vôo oblíquo, rapina um pintinho do pomar, alimento vivo e doce para seus filhos, o trissar é pura felicidade e vida. Isso é genial. Por outro lado ele exalta a garra em sinal de terror. “Mãe, olha aquelas garras, tenho medo delas”.

En los Cantos de Maldoror el hombre es un animal instintivo que tiene toda la animalidade a su disposición. Es el agente totalizador del mal, un mal que hiberna y evoluciona de forma ambigua para la esfera social. Bachelard fue preciso cuando dijo que atribuir una forma humana a la animalidade de Maldoror sería retardarla, sería hacerla perder la grandeza del acto automático, sería lo mismo que imponer racionalidad pura en una acción abrupta, reflejo del instinto. La densidad animalesca ocupa todo el escenario de la acción. Cuando Lautréamont realza el dolor, no atribuye el dolor una causa decurrente de una acción, pero la una duración temporal. “Lo que quema no es a llama, pero el tiempo de exposición al calor”. Se percibe que su gana de vivir si confronta con el querer atacar, que gana una aceleración inmediata. El ser agresivo de Lautréamont ataca en un momento en que ninguna acción es esperada. Contrariando esa misma lógica, el rinoceronte aparece en la trama como un dios pesado e inactivo, y no tiene, a pesar de los chifres, cualquier acción ofensiva. Cuando la serpiente devora un animal gigantesco, su boca crece como si el órgano entendiera el tamaño de su apetito. El pico que estala cuando la lechuza blanca, en su vuelo oblicuo, rapina un pollito del pomar, alimento vivo y dulce para sus hijos, el trissar es pura felicidad y vida. Eso es genial. Por otro lado él exalta la zarpa en señal de terror. “Madre, mira aquellas zarpas, tengo miedo de ellas”.

Durante a escritura do romance segui os trajetos de Ducasse, situando-o longe da coerência que se busca numa abordagem mais formalista, (abordagem que não se permite chegar a uma abordagem puramente biográfica), porque, em verdade, Lautréamont é um fantasma que se ergue sobre os pilares de muitas hipóteses e poucos fatos, e como tal não pode ser encontrado jamais, senão nos recortes de sua própria obra. De modo que posso afirmar, sem medo de errar, que sua existência real é uma lacuna que só pode ser preenchida por componentes de verossimilhança literária.

Durante la escritura del romance seguí los trayectos de Ducasse, situándolo lejos de la coherencia que se recoge en un abordaje más formalista, (abordaje que no se permite llegar a un abordaje puramente biográfico), porque, realmente, Lautréamont es un fantasma que se yergue sobre los pilares de muchas hipótesis y pocos hechos, y como tal no puede ser encontrado jamás, sino en los fragmentos de su propia obra. De modo que puedo afirmar, sin miedo a equicoarme, que su existencia real es una laguna que sólo puede ser llenada por componentes de verosimilitud literaria.

Leyla Perrone-Moisés e Eliane Moraes
E aqui eu desejo fazer um agradecimento formal aos autores que me antecederam nas suas longas jornadas e me possibilitaram essa aventura, dentre os quais eu gostaria de destacar: Léon Bloy, Rubén Darío, Genonceaux,  Soupault, Gide, Breton, Álvaro e Gervasio Muñoz, Maurice Blanchot, Marcelin Pleynet, Le Clézio, Bachelard, Walter Benjamin, Jean-Jacques Lefrère, Emir Rodriguez, Leyla Perrone-Moisés e outros de onde retirei preciosas explicações, preenchendo algumas lacunas e respondendo a uma parte das minhas interrogações sobre Ducasse, sobre Lautréamont e sobre a desordem formal dos “Cantos”, onde o talento e delírio se encontram e se confundem para formar uma só entidade: a entidade pensante que jaz e que se eterniza na obra de arte de Isidore Ducasse.

Y aquí yo deseo expresar mi agradecimiento formal a los autores que me antecedieron en sus largas jornadas y me posibilitaron esa aventura, entre los cuales me gustaría destacar a: Léon Bloy, Rubén Darío, Genonceaux, Soupault, Breton, Álvaro y Gervasio Muñoz, Maurice Blanchot, Marcelin Pleynet, Le Clézio, Bachelard, Jean-Jacques Lefrère, Emir Rodriguez, Leyla Perrone-Moisés y a otros de los que recogí preciosas explicaciones, que llenaron algunas lagunas y respondieron a una parte de mis interrogaciones sobre Ducasse, sobre Lautréamont y sobre el desorden formal de los “Cantos”, donde el ingenio y el delirio se encuentran y se confunden para formar una sola entidad: la entidad pensante que yace y que se eterniza en la obra de arte de Isidore Ducasse.

Decorridos mais de 150 anos do aparecimento dos Cantos de Maldoror, finalmente estamos começando a entender esse personagem terrível e ao mesmo tempo um grande autor, por uma ótica muito diferente da que ele fora visto e confusamente desmerecido pela chamada crítica erudita francesa e belga.

Transcurridos más de 150 años de la aparición de los Cantos de Maldoror, finalmente estamos comenzando a entender ese personaje terrible y al mismo tiempo un gran autor, por una óptica muy diferente de la que él fuera visto y confusamente desmerecido por la llamada crítica erudita francesa y belga.

Para mim sua importância é puramente intelectual. No plano real suas inquietações são as mesmas inquietações da juventude mundial, que olha para o futuro e não vê horizonte. O que há é uma sensação esquisita, uma falta eterna, a ausência de uma luz que não acende, que em verdade são os sintomas agrupados em Braille da nossa dúvida mais íntima quanto ao sentido da vida, da morte e do que mais houver. Ducasse é um autor de grande importância, não só para nós, latinos, mas para os mais exigentes autores e leitores da proesia universal, um autor que desmantelou a arquitetura convencional da literatura bem comportada e com isso inspirou os movimentos mais avançados no que se refere à criatividade poética.

Para mí su importancia es puramente intelectual. En el plan real sus inquietações son las mismas inquietações de la juventud mundial, que mira el futuro y no ve horizonte. Lo que hay es una sensación rara, una falta eterna, la ausencia de una luz que no enciende, que en verdad son los síntomas agrupados en Braille de nuestra duda más íntima cuanto al sentido de la vida, de la muerte y do que más hubiera. Ducasse es un autor de gran importancia, no sólo para nosotros, latinos, pero para los más exigentes autores y lectores de la proesia universal, un autor que desmantelou la arquitectura convencional de la literatura bien comportada y con eso inspiró los movimientos más avanzados en lo que se refiere a la creatividad poética.

Na imaginação ducasseana nem a vida tem finalidade justificada. Tudo é ação, tudo é cinetismo puro. A linguagem não é a expressão de um pensamento prévio. É a força psíquica que se torna linguagem elaborada. Nos Cantos nem as flores, símbolo da vida tranqüila, são confiáveis. A evocação às flores é o emblema de excitação ou de cura de uma crônica enxaqueca. Isso porque ele era um bom devorador de pétalas opiáceas e de outras substâncias alucinógenas. O canivete, a navalha, a hidra de aço são garras que ferem a carne e não o órgão. Maldoror prefere um espinho à navalha, cuja ação é mais cruel do que mortífera. Aí aparece o
 sadismo. Mas em Sade, o marquês, o que sobressai é uma intenção real de escandalizar a sociedade com erotismos e perversidades sexuais. Em L. essa vontade de afrontar não é menos anárquica que em Sade, só que o recurso utilizado para tanto é a agressão animal, o instinto animal do homem.

En la imaginación ducasseana ni la vida tiene finalidad justificada. Todo es acción, todo es cinetismo puro. La lenguaje no es la expresión de un pensamiento previo. Es la fuerza psíquica que se hace lenguaje elaborada. En los Cantos ni las flores, símbolo de la vida tranqüila, son confiables. La evocación a las flores es el emblema de excitación o de cura de una crónica jaqueca. Eso porque él era un bueno devorador de pétalos opiáceos y de otras substancias alucinógenas. El canivete, la navaja, la hidra de acero son zarpas que hieren la carne y no el órgano. Maldoror prefiere un espina a la navaja, cuya acción es más cruel que mortífera. Ahí aparece el sadismo. Pero en Sade, el marquês, lo que sobresale es una intención real de escandalizar la sociedad con erotismos y perversidades sexuales. En Lautréamont esa gana de afrentar no es menos anárquica que en Sade, sólo que el recurso utilizado para lo tanto es la agresión animal, el instinto animal del homen.

Aprendi muito com os poetas absolutos, afinal, só eles e os deuses sabem, por experiência imaginária que, o ato da criação é uma eternidade sufocante. Quem lê Lautréamont com a pressa de quem governa os negócios do mundo, jamais poderá compreender porque uma metáfora de usura que hiperboliza o real, pode ser o próprio real de cada um que esvoaça a cada piscar de olhos.

Yo aprendí mucho con los poetas absolutos, pues sólo ellos y los dioses saben, por experiencia imaginaria que, el acto de la creación es una eternidad agobiante. Quien leer Lautréamont con la prisa de quien gobierna los negocios del mundo, jamás podrá comprender porque una metáfora de usura que hiperboliza el real, puede ser el propio real de cada uno que esvoaça cada parpadear de ojos.

Ricardo Ripol - Barcelona
Como apreciador de Lautréamont, regozijo-me deveras com o convite que me foi formulado por Ricard Ripol para participar desse VIII Colóquio sobre Lautréamont , trazendo como contribuição o romance que reconstitui a vida possível de Ducasse, um jovem autor que elevou ao máximo as possibilidades da ficção.

Como apreciador de Lautréamont, me alegro por la invitación que me fue formulada por Ricard Ripol para participar de ese coloquio internacional sobre Lautréamont, trayendo como contribución la novela que reconstruye la vida posible de Ducasse, un joven autor que elevó al máximo las posibilidades de la ficción.

Espero que os senhores investigadores que participam deste Colóquio Internacional possam ler o romance da vida de Lautréamont, de minha autoria, que será publicado em 2007 na Espanha e em toda a América Latina, pela Belacqva, com tradução de mais importante tradutor da língua de Camões para a língua de
Isi Feuerhak, Don Basílio Losada e Ruy Câmara 
Cervantes, Don Basilio Losada, e compreendam bem como o fenômeno da vida de um gênio literário se transforma numa fatalidade premeditada.

Espero que los señores puedan leer el romance de la vida de Lautréamont, que será publicado en 2007 en España y en toda América Latina, por la Belacqva, con traducción de Basilio Losada, y comprendan así como el fenómeno de la vida de un genio literario se transforma en una fatalidad premeditada.

É importante ressaltar que, nesse Colóquio, o círculo lautreamontiano volta a se abrir para as novas leituras e novas interpretações que o século em curso aguarda. Como ponto final desta intervenção, eu proponho que continuemos seguindo a aventura literária de Ducasse, uma aventura real que perdura no tempo porque a arte pode durar sempre mais que a vida. Tanto é verdade que foi na morte, como prêmio máximo para justificar sua existência, que Ducasse, o filho bastardo da França católica e positivista, mãe de Baudelaire e Rimbaud, fixou o marco da rebelião artística que tanto nos inspira e nos ensina.  

Es importante resaltar que, en ese Coloquio, el círculo lautreamontiano vuelve a abrirse para las nuevas lecturas y nuevas interpretaciones que nuestro siglo aguarda. Como punto final de esta intervención yo propongo que continuemos siguiendo la aventura literaria de Ducasse, una aventura real que perdura en el tiempo porque el arte puede durar siempre más que la vida. Tanto es verdad que fue en la muerte, como premio máximo para justificar su existencia, que Ducasse, el hijo bastardo de la Francia católica y positivista, madre de Baudelaire y Rimbaud, fijó el marco de la rebelión artística que tanto nos inspira y nos enseña.